Olhe ao redor. Sua casa, seu quarto, a cama, o sofá, a televisão, o guarda-roupas. Seus livros, seus cds, as cartas, os porta-retratos e as fotografias... Móveis, roupas, comidas, tudo. Se foi, junto com a água lamacenta de uma enchente.
Agora imagine: não são só seus pertences que se vão. Um morro de terra e lama desaba e engole a sua casa. Leva junto a sua família.
Não, não é historinha inventada, não é imaginação. Todo mundo sabe da existência dessas tragédias, e histórias como essas estão acontecendo aos montes: resultado das 110 mortes em Santa Catarina nessa semana até agora. Mais de 78 mil desabrigados. setenta e oito mil pessoas, sem teto. Não tem mais nem o que olhar, não sobrou nada, não têm mais casa, não tem móveis. Perderam até todas aquelas recordações, fotografias e um pouco da história, que poderiam estar numa caixa, dentro de um armário, guardadas com sentimentos e saudade. Se foi... tão rápido quanto a correnteza.


Mas o bonito é ver todo mundo sensibilizado com isso. Caaara ! Depois dizem que ser humano é uma bosta - somos acomodados, isso sim. É inédito, nunca vi as pessoas tão mobilizadas ajudando. Gaúcho, paranaense, paulista... Mais de dez toneladas de produtos de limpeza, higiene e alimentação já foram arrecadados. É muita coisa, mas é claro que é preciso muito mais.... e pelo jeito não vai faltar não. Aqui em Santa Maria é uma galera arrecadando doações. Em Santa Rosa também tô sabendo das escolas que estão juntando alimentos e produtos pra doar. A Embaixada dos Estados Unidos também liberou uma grana para ajudar as famílias desabrigadas. Nobreza.
E eu vi uma cena que me comoveu, também comoveu o Fabiano e até quem ouviu a Atlântida hoje de tarde. Um casal aparece lá na rádio, com vários produtos de higiene, água mineral e alimentos. O casal de namorados ouviu que as doações poderiam ser feitas e entregues ali. No carro, decidiram passar no mercado, comprar os produtos e foram lá entregar as várias sacolas. Nobreza.
É isso que me faz acreditar que as pessoas ainda são humanas. O problema é o comodismo. Agora, imaginem se houvesse o tamanho dessa solidariedade o tempo inteiro, não só nessas tragédias. Mas é preciso tragédia dessa altura, para percebermos que podemos e temos condições, sim, de ajudar outras pessoas.
E todas essas atitudes, não deveriam ser consideradas tão nobres assim. Elas deveriam ser normais. A solidariedade é o correto. Mas, do jeito que as coisas andam, mobilização e solidariedade tamanhas acaba virando atitude de nobreza, passível de prêmios e troféus.