Aqueles carinhas que fazem, todos os dias, a gente enxergar pessoas com fones de ouvido rindo aparentemente sem motivo no trânsito, no ônibus, na rua, resolveram vir até Santa Maria hoje. Eles quiseram emprestar pra nós um pouco da alegria do Pretinho Básico, e se sentiram na dívida de nos entregar um pouco de humor depois de tanto peso triste e cruel desde o fim de janeiro.
Lá veio toda a tropa no início da tarde, instalou-se no prédio da reitoria e atraiu risadas, olhos curiosos, câmeras fotográficas, gritinhos histéricos...
E cumpriram a missão... Depois das 13h o Salão Imembuí ecoava de gargalhadas. Teve piada censurada pro horário - que escapou. Teve a aparição do Almir, do "Geiso", do "Faustão", as piadas velhas do Porã e as do Potter... rolou piada até com o reitor. Mas não foi só isso.
Hoje, durante o programa, depois que um pai falou sobre como estava levando a vida após a perda do filho na tragédia, eu vi uma cena simplesmente paradoxal. Que, penso, ninguém ali dentro imaginava ver.
Paradoxal? Sim. Alexandre Fetter escorou a mão sobre o rosto e desandou num choro (antes) contido. Chorou. Sim, o Fetter que brinca, solta palavrão e comanda os brincalhões, embargou a voz, engasgou, abaixou a cabeça, pausou e chorou. Poxa vida, ele mostrou que o Pretinho também chora. Os caras mais escrachados do FM gaúcho também entristecem. Também são complacentes, solidários. Eles também são pais, irmãos, amigos. Também sofrem e vieram chorar conosco. Claro, porque eles vieram sorrir conosco, vieram nos dar o riso que só eles proporcionam, mas nada mais solidário do que deixá-los chorar também, já que ainda não tinham sentido de perto todo o turbilhão de sentimentos que rolam em Santa Maria, quando se cruza pela Andradas, quando se atravessa a Rio Branco, quando se entra na UFSM, quando se enxergam os prédios do Centro de Ciências Rurais, quando se abraça um pai que perdeu um filho, quando se vê rostos jovens daqui cheios de uma coisa linda chamada... vontade de viver.
Fetter chorou e foi consolado, recebeu um afago e o abraço do pai que perdeu o Vinícius.
Fetter chorou e humanizou aqueles carinhas que algumas pessoas às vezes pensam que as vidas se resumem às piadas nas ondas do rádio. Fetter chorou e fez a gente chorar. E saiu daqui com abraços solidários.
Os pretinhos voltaram com a missão cumprida. O Fetter me disse que achava estranho dizer que estava alegre por fazer o programa aqui, em virtude de um fato triste. Não ache estranho, Fetter. Todos achamos alegre, mesmo sabendo o motivo. Porque eles, que não mais estão aqui, também achariam. Foi divertido. Feliz. Leve. Sorrimos. Era o que precisávamos. Tu nos emprestaste a alegria do Pretinho. Te emprestamos nosso ombro e solidariedade. Obrigada.