segunda-feira, 29 de agosto de 2011

âncora? vela?

qual me leva? qual me prende?


Então essa pergunta é feita toda vez que o play roda em Mapas do Acaso. Fato é que, diante de uma pergunta com resposta quase tão óbvia, as alternativas viram milhares... pensamento digno de horas reflexivas, com direito a papo filosófico, conversa em mesa de bar ou em volta de pequenas viagens.
 Âncora prende. Vela leva... Mas, em uma visão ampliada, parafraseando o carinha das consoantes, há várias variáveis... E aí a pergunta, feita numa noite de sábado em Porto Alegre, enquanto tocava no som do carro essa música, foi respondida em duplicidade.
Quem sabe? Do que depende? Uma vela pode ser superficial. Leve. Leva, como o vento, é incerta... A âncora, concreta, sólida, permanece. Pode passar a (falsa?)sensação de segurança... naturalmente, não deixaria escapar.
Pelas toneladas, âncora inevitavelmente e sem sofrimento, prende a qualquer um, mesmo que não queira. Mas depois, por prender indiscutivelmente, pode virar martírio.
Talvez aí então, a beleza e a força do oposto... Enquanto uma vela não tem a capacidade de te prender pelo peso, ela, com um mistério espantoso, simplesmente pelo prazer da leveza... Me leva desafiando pra lugares inexplicáveis. Como um ímã, atrai... conecta... Pela liberdade, prende. Aí, a duplicidade boa da coisa.
A vela então, sem querer, também toma o papel da âncora: me leva... e me prende.
"...aprendi contigo a navegar, a qualquer tempo, em qualquer mar"
enghaw

terça-feira, 12 de julho de 2011

22 invernos

A noite de julho era gelada. Pelo que dizem foi por volta das sete horas da noite. Loirinha, tinha 50 centímetros, menos de dois quilos, toda frágil e pequeninha. O que sei é só o que me contam, não me perguntem qual foi a sensação que tive ao chegar por aqui. Mas bem que gostaria de lembrar. Sei que devo ter feito um bocado de diferença na vida de pelo menos duas pessoas nesse mundo. E isso já bastaria.
A retrospectiva inevitavelmente vem, os aniversários correm, os anos retrocedem na memória e passam em flashes todos os invernos anteriores... O resultado desse pensamento? Evolução.
Acho que é por isso que a vida deve valer a pena. Pra ver, ao longo dos aniversários e dos anos, quem se eterniza nesse ciclo. Quem fica, o quê fica, apesar de tudo. O que a gente leva, quem a gente leva, o que se descarta, o que se aprende, o que se carrega nas costas e o que se tatua na alma.
Já ouço meus pais e avós dizendo, “parecia ontem”. É, parecia ontem que eu não sabia o que era passar um aniversário longe de casa, parecia ontem meus 15 anos, parecia ontem a festinha na pré-escola. Inevitável nostalgia, carregada de sentimentos que só um passado muito bom te proporciona...
Conhecem a história do ano novo, né. Quando virou a noite, senti mesmo como se estivesse na virada do ano. Fogos de artifício no meu pensamento.
Um novo número, um novo ciclo, e que venha cheio de tudo o que me puder fazer crescer.
22 invernos. Confesso que prefiro ares de primavera... mas o inverno é a minha estação, julho é o meu mês e 12... é o meu dia.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

vamos viver a faixa?

Era domingo de Páscoa. Eu entrava na cidade pela avenida Dores, voltando de Santa Rosa com meu primo, por volta das oito horas da noite. Um engarrafamento estranho, e uma multidão logo a frente. O instinto curioso me fez sair do carro, que estava parado na avenida por causa do congestionamento, e ir até a movimentação. Lá, um susto. Uma menina, cabelos pretos, pequeninha, caída e desacordada no chão. Uma senhora gritava por socorro. Nenhuma ambulância no local. Logo, peguei o telefone e liguei para a Clarissa, para avisar. O cinegrafista não chegou a tempo de fazer imagens. Por sorte, as ambulâncias chegaram em cinco minutos e levaram a menina ao hospital.
O tio da pequena segurava nas mãos um pé do par das botinhas que ela usava. Ele me explicou que a menina atravessava a rua, quando um dos carros parou para ela passar, mas o carro da pista do lado não a viu. A pequena estava na faixa de segurança. Qual é o nome dela? Ouço um quase inaudível Luísa Helena.
Ver a menina me deixou com uma sensação de impunidade. Não pude fazer nada, mas vi a criança ali, no chão, e a família em desespero, sem ninguém saber o que fazer. Mais de dois meses depois, descubro que ela continua no hospital: 64 dias. Não corre risco de vida, mas pode sofrer sequelas. A parte neurológica foi muito afetada e ela pouco responde aos movimentos do corpo.
A Luísa Helena foi só mais uma a ser atropelada na faixa de segurança, dias depois de um outro atropelamento, também na faixa de segurança, que causou a morte do padre Bernardino Trevisan. Como disse a mãe dela, Gabriela, Luisa Helena não foi a primeira e nem será a última.
Mas a prudência, a educação e a responsabilidade devem estar aí para modificar essas estatísticas. Pelo menos é o objetivo.
Por isso o Grupo RBS começou hoje a espalhar pela cidade um Viva a faixa bem grande, pra ser respeitada e cumprida. É um apelo às autoridades, pedestres e motoristas, mas acima de tudo, um apelo à vida.
Porque só quem sofre conhece a fragilidade da vida.
Minutos antes de ser atropelada, Luisa Helena saía da missa com os avós para descobrir o significado da Páscoa. Depois disso, não sabemos se ela teve algum momento de consciência. Foram segundos, um pé na faixa de segurança, um olhar desatento de um motorista, e uma consequência triste.
Torcemos pela recuperação da pequena, e pra que todos os familiares voltem a ver o sorriso dela. E principalmente, que não aconteçam outras situações como essa, que sabemos, não é a única. 
E ainda, que a educação no trânsito, aconsciência, o cuidado e o respeito à vida perseverem. É essa a bandeira levantada.Vamos viver e deixar viver. Viva a faixa.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

são as pequenas coisas

...que valem mais













Foi bom acordar aquela manhã, apesar do mal estar no estômago. Depois do meio dia, tudo voltou a virar normal e, como é rotineiro depois das despedidas, bateu um desânimo chato. A tarde corrida  passou como um raio e cheia de tarefas. A volta pra casa a pé foi uma opção pra exercitar, deixar o vento bater no rosto, pensar. Esvaziar a caixa de correspondências, preparar-se pra aula nos minutos seguintes, comer um lanche rápido, trocar a roup... ops. 
Já depois da aula, pensando nas tarefas do dia seguinte, olhando e-mails, vendo atualizações de orkuts, facebooks, twitters... uma tarja amarelinha indica novidade. Clica, e ali está.
Meu dia ganho com pequenas coisas. Um bilhete em cima da minha cama... uma música estampando dez anos de amizade... Isso, naquele dia. E que ninguém negue o poder das pequenas coisas... As vezes, uma palavra que valoriza teu esforço. Um riso sincero, um abraço, um elogio. Uma ligação da família com saudade. Um olho no olho bem olhado. Uma recordação guardada em papel. Não canso de dizer, e faço questão de lembrar todo o dia.. são as pequenas coisas que trazem grandes proporções de felicidade.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

pra matar a saudade...

...em dose dupla.
tava com saudade de escrever aqui. justificativas nem sempre justificam, fato que eu tinha 20384 mil coisas pra escrever no blog nos últimos meses, mas o tempo com faculdade, projetos, estágio, me consumiu. Sem mais "desculpinhas", volto pra matar a saudade em dose dupla. Rabiscando na agenda da Andressa hoje, lembrei de um texto do Oscar Wilde, que na época do teatro, decorei para uma apresentação no colégio. É claro que deu saudade. Então, lembrando das minhas definições de amizade lá longe, relendo o texto, e redefinindo meus conceitos de amizade hoje, cheguei à conclusão: continuam o mesmo, igualzinho ao que muito bem define esse texto:

loucos e santos

Meus amigos são todos assim: metade loucura, outra metade santidade. Escolho-os ão pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante. A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos.  Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso.  Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim. Para isso, só sendo louco.
Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças. Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta.
Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto.
Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos. Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça.
Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice!
Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa.
Tenho amigos para saber quem eu sou.
Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.



quinta-feira, 14 de abril de 2011

doce 14

Há 19 anos, minha avó segurava um bebezinho na janela do Hospital de Caridade. Erguia como se fora um troféu, a roupinha branca e os cabelos bem pretos. Eu queria entrar e ver o bebê de perto, pegar no colo ou só acariciar o rostinho. Mas o senhor da portaria não deixou uma criança de dois anos e oito meses entrar na maternidade do hospital.
Não sei em que ponto acaba a memória e vem a imaginação, mas talvez seja essa a minha lembrança mais distante. Por vezes acreditava que a lembrança era sonho, e às vezes até confundo e penso que deve ter sido... Mas meu pai e meu irmão confirmam o que a minha memória guarda, e contam que foi mesmo naquele 14 de abril de 1992.
Essa é a mais remota, mas outras vêm à tona como se andasse numa viagem a caminhos bem coloridos. O bebezinho de cabelos pretos chegou e foi a melhor amizade para a loirinha que recém descobria a infância. Uma infância docinha, cheia de barbies, barraquinhas de lençol e castelos de areia. Inevitavelmente... o tempo construiu uma cumplicidade que não se compra, não se vende, não se substitui.
Muitos puxões de cabelo, arranhões que cicatrizaram, palavrinhas proferidas na hora errada e raivinhas passageiras só mostraram isso: são passageiras. Irmão briga, se escabela, grita, chora, bate, morre de raiva, mas depois, nem morre nada. Passa tudo, e passa pra cá um copo de cerveja, um pacote de salgadinho, um pedaço de bolo, uma roupa emprestada, tá tudo certo, tudo bem.
É aquela velha história... escolhemos os amigos, não escolhemos os irmãos. Mas se existe o arquiteto do destino, ele acertou muito bem na escolha. Nos colocou juntas no mesmo sangue, na mesma casa e na mesma vida. Apesar de uma ou outra diferença, sabemos bem mais das semelhanças, dos olhares decifrados, do riso e o medo compartilhado, da cumplicidade e do amor.
Que assim permaneça sempre. Aqui, em Santa Rosa, em Pelotas, onde o destino nos colocar, longe, perto, ou em pensamento.

Sei que a vida vai aprontar..e o que vier, azar.
a dois é fácil segurar
Se Deus deixar, viu
meu amigo
Vou sempre estar aqui
Junto a ti, feito corpo e alma
meu irmão, meu par

felicidades mil, sorella! FELIZ 19 aninhos!!
[aqui, ó, e só pra nós, aproveita e muito essa vida loca!]

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

voz de veludo, mayra correa aygadoux

dias tumultuados me impediram de sentar com calma e parar para escrever, qualquer coisa que fosse, nesse espacinho. fato é que queria poder escrever com mais frequencia por aqui... hoje apareço pra externar um pouco um gosto que tem sido presença constante nos últimos dias.
geralmente não sou daquelas que escuta a mesma música no repeat 28764 vezes, mas algumas exceções raramente aparecem... é o caso do último dvd que comprei - também não compro milhares de dvds. só os que, de fato, gosto muito.
tudo começa com abajures amarelados em um fundo vermelho rabiscado por algumas letras. a trilha é da música bela flor. aperte a primeira opção, show, e já vai ter o encontro. depois, segue e curte...
alguns críticos até reclamaram que o dvd traz só sete músicas próprias dela. mas, ao contrário do que pensam, creio eu que ele foi gravado na hora certa. mayra correa, ou, a querida maria gadu, tem talento e canta com a alma... um jeitinho que remete a cássia eller e uma voz de veludo. dá pra ver a relação bonita com os amigos que ela leva pro palco e que dividem com ela canções igualmente belíssimas...
gostei da mistura com a arte, quando ela chama caio soh para "colorir, e escrever", quando toca nosso altar particular. então, com um pincel, ele rabisca letras de músicas em uma lousa branca. (se não for pela arte, por que a alma pesando o corpo?).
dona cila é outra. a faixa 5, explicada nos extras pela própria compositora (na entrevista que é a cara dela), é de uma sensibilidade sem tamanho. certamente a avó de gadu sorriu lá de cima com o presente da neta... e pra nós, aqui do outro plano, inevitável não deixar a emoção adentrar.
sem mais, deixo aqui o registro de algumas notas que tem me ritmado e agora também entram pra minha trilha...





..a música é um pequeno lembrete de Deus de que há mais coisas no mundo do que nós...ligação harmônica entre todos os seres vivos, em todo lugar, até nas estrelas. (do filme, o som do coração)

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

mario quintana

"Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano
Vive uma louca chamada Esperança
E ela pensa que quando todas as sirenas
Todas as buzinas
Todos os reco-recos tocarem
Atira-se
E
— ó delicioso vôo!
Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada,
Outra vez criança...
E em torno dela indagará o povo:

— Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes?
E ela lhes dirá
(É preciso dizer-lhes tudo de novo!)
Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não esqueçam:

— O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA...”.
m. quintana